sábado, 20 de junho de 2015

Discurso de Lula é decretação da falência do Partido dos Trabalhadores



BRASÍLIA E SÃO PAULO — As críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à presidente Dilma Rousseff, feitas durante uma reunião do petista com um grupo de padres e dirigentes de entidades religiosas em seu instituto, em São Paulo, tiveram ressonância diferente entre petistas e a oposição. O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), avaliou que o diagnóstico de Lula sobre o governo e o partido deve ser encarado como motivação para que lideranças da legenda defendam a gestão de Dilma. Já o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), entendeu as palavras de Lula como a decretação da falência do PT. Líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE) evitou comentar as críticas feitas ao governo federal pelo ex-presidente Lula e se limitou a dizer que, no Nordeste, a aprovação ao PT é maior do que no resto do país:
— Tenho dois trabalhos: defender o governo Dilma e o PT no Nordeste. E o PT no Nordeste segue firme e forte, estamos muito acima do volume morto. E, no governo, estamos trabalhando. O país vai se surpreender no ano que vem — afirmou Guimarães.
Lula criticou Dilma por "ter se afastado dos movimentos sociais e não abrir o Planalto aos mais pobres". O ex-presidente disse também que sua sucessora prometeu não mexer nos direitos trabalhistas e mesmo assim fez um ajuste semelhante ao que, na visão dele, os tucanos fariam. Procurado pelo GLOBO, o Palácio do Planalto não quis falar sobre as declarações de Lula.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Edinho Silva, não respondeu aos contatos do GLOBO. E o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que não falaria sobre o assunto:
— Tenho visto na imprensa muitas vezes matérias que dizem que ex-presidente fez críticas ao governo e que, logo, são desmentidas pelo ex-presidente. Por essa razão eu não vou me pronunciar.
Neste sábado, O GLOBO revelou que Lula abriu seu coração no encontro com religiosos. Para ele, a taxa de aprovação de Dilma, do PT e dele próprio estão no volume morto.
— Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim — declarou.
O ex-presidente também observou que Dilma não escuta ninguém, que o governo parece ser constituído de mudos, que o gabinete presidencial é uma desgraça porque só tem notícias ruins e que o governo precisa mudar de pauta e anunciar mais esperança.
Para o líder do PT na Câmara, a avaliação de Lula não deve se entendida apenas como um recado ao governo, mas a todos os petistas.
— Há no PT uma vontade de que as instâncias partidárias sejam mais propositivas. O ajuste fiscal é importante, mas, além disso, o que acontece? — afirmou Sibá Machado.
Sibá disse ainda que tem viajado pelo país —na última sexta-feira estava em São Luís e, ontem, em Porto Alegre — para defender o partido e o governo.
— Não veja a fala do (ex) presidente Lula como uma crítica, mas como uma boa sugestão. Não devemos entender isso como direcionado apenas ao Planalto ou à presidente - disse o líder do partido.
Já a oposição avaliou que as críticas de Lula à presidente Dilma e ao governo apontam para a falência do PT e do governo.
— A fala dele, com a respeitabilidade que ele tem no PT, significa a decretação da falência do partido e do governo. É um atestado de óbito — afirmou o presidente do DEM, José Agripino (RN).
— Ele mesmo disse que a Dilma não recebe ninguém, não recebe os pobres. Ele qualificou Dilma como elitista, que se aproveita do poder. Na hora em que diz isso, reconhece a falência do projeto do PT e das principais figuras do partido que estão no governo — completou.
Segundo Agripino, Lula reconheceu o que a oposição vem dizendo há seis meses: que Dilma prometeu uma coisa na campanha e fez outra depois. De acordo com Agripino, a Dilma da campanha era uma figura operada e orientada pelo marqueteiro João Santana.
— O estelionato eleitoral é reconhecido até pelo líder máximo do PT — afirmou Agripino, acrescentando: — Você tem aí, na declaração de Lula, a certificação digital do estelionato eleitoral, ao qual a oposição vem se referindo há seis meses. Até eles reconhecem. E mostra que desde a campanha eleitoral eles têm diferenças.
O líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), tem avaliação semelhante à do presidente do partido. Segundo Caiado, a campanha da reeleição de Dilma se baseou muito mais nas orientações do marqueteiro do que nas realizações do governo.
— Ela fez um discurso muito mais focado no marketing, e o governo ficou jogado. Fez um discurso de marquetagem. O Estado brasileiro virou uma máquina de eleger candidato do PT — afirmou.
Para Caiado, Lula está tentando se desvincular de Dilma:
— Ele negou a cria. Viu que o governo é insustentável, mas sabe que ele pessoalmente não tem sobrevivência.
No Twitter, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que foi ministro da Educação no primeiro ano do governo Lula, criticou o ex-presidente. "Lula crítica Dilma sem autocrítica a si, ao PT e à esquerda, que aceitaram os erros dos últimos anos. Manda Dilma ir às ruas, sem propor o que dizer", escreveu Cristovam.
PT DEVE UMA REFLEXÃO
As críticas feitas por Lula ao governo federal e ao PT mostram uma postura diferente da que o ex-presidente vinha tomando até então. Em vez de fazer uma defesa do PT e do governo, desta vez ele partiu para críticas, segundo o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eurico Figueiredo. Na opinião dele, é importante saber como o partido vai se comportar a partir de agora:
— O PT está devendo uma reflexão, não de uma pessoa ou duas, mas de um todo. Será que essas declarações do Lula já são consequência de ações que ele tem tomado com outros dirigentes? Precisamos ver se essa fala dele vai mudar o discurso do partido pra valer.

Na avaliação de Eurico, ao utilizar a expressão "volume morto" para se dirigir ao governo, Lula está dando mostras de que o PT precisa reagir.

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