
A Polícia Federal (PF) deflagrou nessa terça-feira (18) a
operação “Curinga” com o intuito de coibir fraude nos cofres da Previdência
Social no Norte de Minas. No curso das investigações, a PF deparou-se com
fortes indícios de crime eleitoral em benefício de candidatos da coligação do
PT. Dessa forma, a operação policial será desmembrada.
Isso porque os nomes dos deputados petistas Reginaldo Lopes,
reeleito para a Câmara dos Deputados e cotado para assumir o Ministério da
Educação, e do deputado estadual Paulo Guedes foram citados no relatório
parcial da PF. O envolvimento dos parlamentares com a quadrilha do INSS foi
descartado, mas eles podem ter sido beneficiados eleitoralmente.
O esquema de fraude na Previdência foi montado dentro da
prefeitura e da Câmara Municipal de Monte Azul. O escritório do INSS em
Espinosa, cidade localizada a 40 Km de Monte Azul, foi utilizado pelo bando. Os
principais políticos de Monte Azul estão diretamente envolvidos com o rombo nos
cofres da Previdência, estimado em R$ 200 mil, e com os crimes eleitorais.
Entre eles, o vice-prefeito, três vereadores, três secretários da prefeitura,
além do sindicato de trabalhadores rurais da cidade, todos eles ligados ao PT.
A partir de documentação forjada, o grupo conseguia aposentadoria para pessoas
que nunca foram trabalhadores rurais.
QUADRILHA DO PT EM AÇÃO
O Hoje em Dia teve acesso aos documentos e aos grampos telefônicos da
investigação. De acordo com o inquérito, benefícios previdenciários, materiais
de construção, combustível, além de cadastros do Bolsa Família, auxílio-doença,
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e até
dentaduras foram oferecidos em troca de voto.
Além da Zona da Mata, o Norte de Minas foi a região na qual a
presidente reeleita, Dilma Rousseff (PT) obteve maior vantagem perante o tucano
Aécio Neves, seu principal oponente. Em Monte Azul, por exemplo, Dilma obteve
76% dos votos da cidade, enquanto Aécio ficou com 14%. Guedes e Lopes
conquistaram 30% dos votos válidos do município. Lopes foi o mais votado, e
Guedes, o segundo.
Em um dos grampos telefônicos, o vereador Geraldo Moreira dos
Anjos, o Ladim (PT), foi flagrado orientando o eleitor Flávio Custódio Teixeira
a votar nos candidatos do PT. O vereador petista, segundo o inquérito, intermediou
a inclusão da mulher de Teixeira na lista do Bolsa Família. A inclusão dela no
cadastro será investigada, já que a maioria das benesses, especialmente os
programas de transferência de renda e as aposentadorias, foram destinadas a
pessoas que não poderiam ser contempladas.
Em outro diálogo, o vice-prefeito de Monte Azul, Antônio
Idalino, o Toninho da Barraca (PT), foi pego autorizando o caminhão-pipa da
cidade a fornecer água para uma piscina na casa de um eleitor. Numa outra
conversa, o petista determina que a dentista da prefeitura faça dentaduras para
eleitores.
FIZERAM O DIABO NO INTERIOR
Contra o vice-prefeito de Monte Azul, Antônio Idalino Teixeira,
o Toninho da Barraca (PT), a Justiça Federal em Montes Claros, no Norte de
Minas, decretou mandado de condução coercitiva e busca e apreensão na casa do
político e na prefeitura. Ele é considerado uma das principais peças do
esquema.
O servidor do INSS de Espinosa Ronaldo de Medeiros Boeira e os
vereadores Geraldo Moreira dos Anjos, Geraldo Ladim (PT), e Marineide Freitas
da Silva, a Marineide do Sindicato (PT), foram presos temporariamente.
O mesmo ocorreu com o presidente do sindicato dos trabalhadores
rurais de Monte Azul, Antônio Tolintino, e seu secretário, Nilton Rodrigues
Nunes. Conforme as investigações, os dois são suspeitos de fraudar os processos
de aposentadorias rurais por tempo de serviço. Os benefícios eram concedidos a
pessoas que não preenchiam os requisitos legais.
Já o vereador Francisco de Assis Gonçalves Dias, o Diassis (PP),
foi conduzido para prestar depoimento e teve a casa vasculhada pelos federais.
Depois do interrogatório foi liberado.
Três secretárias de Monte Azul também estão entre os
investigados. São elas: Aurélia de Paula Santos (Educação), Vanessa dos Anjos
Dias (Saúde) e Cássia Michele Gomes (Finanças). Para as três, foram expedidos
mandados de condução coercitiva, além de busca e apreensão em suas residências
e na prefeitura.
NO ENCALÇO DO DEPUTADO PETISTA
Durante todo o dia, a reportagem fez contatos com a prefeitura e
com a Câmara Municipal de Monte Azul, mas até o fechamento desta edição ninguém
foi encontrado para comentar a ação da PF.
Em entrevista ao Hoje em Dia, o deputado Paulo Guedes classificou a operação de “factoide
eleitoral”, mas comprometeu-se a averiguar o assunto. “Se houve alguma
irregularidade, não tenho nada a ver com isso. Obtive 165 mil votos em todo o
Estado. É impossível policiar todos os aliados”, declarou.
Mais votado do PT em Minas, o deputado federal Reginaldo Lopes
foi procurado no celular e em seu gabinete, em Brasília. A assessora de
imprensa do parlamentar em BH chegou a atender os telefonemas do Hoje em Dia.
Alegou que o parlamentar estava com a agenda cheia de compromissos. Depois,
informou que o parlamentar não iria se manifestar nessa terça.
OPERAÇÃO TEM 19 ALVOS
Ao todo, 19 pessoas são alvo da operação “Curinga”, sendo que 17
foram levadas para a sede da Polícia Federal (PF) em Montes Claros, no Norte de
Minas, e outras duas são procuradas. A polícia informou ainda que 39 mandados
judiciais de busca e apreensão, condução coercitiva e sequestro de bens estão
sendo cumpridos.
Uma segunda fase da operação “Curinga” será deflagrada para
reprimir possíveis crimes eleitorais. Os investigados responderão, neste
primeiro momento, por crimes contra a administração pública, estelionato,
formação de quadrilha e falsidade ideológica, dentre outros. Uma vez
condenados, as penas máximas aplicadas aos crimes podem ultrapassar 20 anos. Do site do jornal Hoje em Dia
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